Tocar a Terra é uma prática que nos traz uma nova visão interior. Praticando as três prostrações todos os dias, serás capaz de dissipar as ideias de nascimento e morte, de “eu” e da duração da vida, e deixarás de ter medo da morte.
Esta prática pode transformar o teu medo e angústia, restaurar a tua saúde e reconciliar-te com os teus ancestrais e descendentes.
- Tocando a terra, conecto com os meus antepassados e com os meus descendentes tanto da minha família espiritual como biológica.
Os meus antepassados espirituais incluem o Buda, os bodhisattvas, a nobre Sangha dos discípulos de Buda, e os meus próprios mestres espirituais que ainda vivem ou que já faleceram. Estão presentes em mim porque me transmitiram as sementes de paz, sabedoria, amor e felicidade. Despertaram a minha fonte da compreensão e compaixão. Quando observo os meus antepassados espirituais, vejo os que praticam com toda a perfeição os preceitos, a compreensão e a compaixão, e os que o fazem ainda com imperfeição. Aceito todos eles porque em mim mesmo vejo defeitos e fraquezas.
Consciente da minha prática da plena consciência não sempre ser correta, e consciente de que nem sempre pratico com a compaixão e a compreensão que quisera, abro o meu coração e aceito todos os meus descendentes espirituais. Alguns dos meus descendentes praticam os treinos da plena consciência, a compaixão e a compreensão duma forma muito respeitável e digna, mas também estão aqueles que se encontram com muitas dificuldades e estão constantemente sujeitos a altos e baixos na sua prática.
Da mesma forma, aceito todos os meus antepassados maternos e paternos. Aceito as suas qualidades boas e as suas fraquezas. Abro o meu coração e aceito todos os meus antepassados de sangue com as suas boas qualidades, os seus talentos e as suas debilidades.
Os meus antepassados espirituais e de sangue, os meus descendentes espirituais e de sangue, todos eles são parte de mim. Eu sou eles e eles são eu. Não tenho um ser separado. Todos existimos como parte dum rio maravilhoso de vida fluindo constantemente.
- Tocando a terra, conecto com todas as pessoas e espécies que partilham comigo este instante de Vida na terra.
Sou um com as formas maravilhosas de vida radiando em todas as direções. Vejo a estreita conexão entre mim e os outros, como partilhamos alegrias e sofrimentos. Sou um com aqueles que nasceram com uma incapacidade ou aos quais a guerra, acidentes ou enfermidade tornaram inválidos. Sou um com aqueles que estão presos por uma guerra ou opressão.
Sou um com aqueles que não encontram felicidade na vida familiar, que não têm raízes nem paz mental. Aqueles que estão famintos de compreensão e amor, aqueles que procuram algo íntegro, formoso e verdadeiro para abraçá-lo e acreditar. Sou alguém a ponto de morrer com muito medo, sem saber o que se passará. Sou uma criança a viver num lugar cheio de miséria e insalubre, com as pernas e braços magros, sem perspetivas dum futuro melhor.
Também sou o fabricante das bombas que enviam aos países pobres. Sou a rã nadando na lagoa e também a cobra que precisa nutrir-se da rã. Sou o verme ou a formiga que o pássaro procura para comê-los, e sou o pássaro procurando o verme e a formiga. Sou o bosque que talham. Sou o ar e os rios poluídos, e sou a pessoa que talha o bosque e contamina os rios e o ar. Vejo a mim mesmo em todas as espécies e vejo todas as espécies em mim.
Sou um com os grandes seres que realizaram a verdade do não nascimento, não morte e observo as formas de vida e morte, felicidade e sofrimento com olhos tranquilos. Sou um com aquelas pessoas, com a mente em paz, que dispõem de amor e entendimento, capazes de tocar o que é maravilhoso, nutritivo e curativo, pessoas que também abraçam o mundo com um coração aberto e que atuam quando é necessário.
Tenho suficiente paz, alegria e liberdade em mim para conseguir oferecer a minha alegria e a minha coragem às demais pessoas que vivem perto de mim. Não estou só nem isolado. O amor e a felicidade dos grandes seres deste planeta ajudam-me para não me fundir na inquietação. Eles ajudam-me para que viva a minha vida de forma consciente, com verdadeira paz e alegria. Reconheço-os em mim, e vejo a mim mesmo neles todos.
- Tocando a terra, largo a ideia de que sou este corpo e que a minha vida é limitada.
Observo que este corpo, feito pelos quatro elementos, não sou eu realmente e não estou limitado por este corpo. Sou parte dum rio de vida de antepassados espirituais e de sangue que fluíram até o presente desde há milhares de anos e continuaram a fluir milhares de anos no futuro. Sou um com os meus antepassados. Sou um com todas as pessoas e espécies, pacíficas e sem medo, ou que sofrem e fragilizam. Neste instante estou presente em todos os lugares deste planeta. Também estou presente no passado e no futuro. A desintegração deste corpo não me concerne, da mesmo forma que a flor da ameixeira que cai não é o fim da ameixeira.
Vejo-me como uma onda na superfície do oceano. Vejo-me em todas as outras ondas e vejo as outras ondas em mim. O aparecer e desaparecer da forma das ondas não afeta o oceano. O meu corpo do Dharma e a minha vida espiritual não estão sujeitos ao nascimento e à morte. Observo a minha presença antes de que o meu corpo se manifestasse e depois que o meu corpo se desintegrasse. Até neste mesmo instante, vejo como existo para além do do corpo. A duração da minha vida é sem limite, como a duração da vida do Buda. Sou um corpo que não está separado no espaço e no tempo das demais formas de vida.
Para mais informação:
- Enseñanzas sobre el amor, Thich Nhat Hanh
- Cantos del corazón, Thich Nhat Hanh